Família
Os filhos são caixinhas de surpresas!
19 Março 2018
Aceitando de bom grado o desafio lançado pela Mimobox para escrever um pequeno texto sobre ser pai, reflecti um pouco sobre o que escrever. Acho que o nosso caso tem pano para mangas porque, afinal de contas, sou pai de gémeos e vivo emigrado (ou expatriado, nunca sei) – portanto não há aqui forte presença da habitual rede de apoio familiar, tão comum em Portugal.
Pensei que podia escrever algo mais terra-a-terra, tipo conselhos práticos para pais recentes ou até para pais de gémeos. Podia também escrever sobre a mudança na nossa vida: a perda de tempo para nós próprios, as novas rotinas, a nova dinâmica de casal, a privação de sono, o parto complicado, as interferências irracionais da família, a semana de um deles em Neonatologia ou os pesadelos que são os voos com dois bebés nas visitas à terra. Claro que já há muito escrito sobre todos estes temas – apesar de só se saber verdadeiramente quando se passa por tudo isso.
Finalmente decidi escrever sobre o que de mais surpreendente houve nestes últimos 10 meses – desde o nascimento do António e do Benjamim. Num mundo sobrecarregado de informação e pressionado pelos redutores e rígidos “modelos de previsão” tão apreciados (?), que os nossos queridos engenheiros e homens de negócios nos presenteiam, parece-me que este poderá ser o mais interessante que posso partilhar.
Escrevo, então, sobre duas surpresas: uma má e uma boa – relacionadas entre si.
A má surpresa, uma autêntica palmadinha na cara dos pais foi o quão difícil foi o início. Eis-nos aos dois, sozinhos num país distante com uma família duplicada. A dificuldade não foi (apenas) a da logística. Não foi, também, o stress do parto e da desagradável surpresa de ouvir um médico dizer sobre o Benjamim: “Oh Gott, er ist so Klein!” [Oh Meu Deus, ele é tão pequeno]. A surpresa para mim é que não houve nada de mágico ali. E é a de que eles chegam e são uns completos estranhos. Acho sinceramente que é bastante bizarro dizer que se sente imediatamente uma ligação especial. Eles são uns estranhos! Mesmo que sejam meus filhos.
A boa surpresa é que eles deixam rapidamente de ser estranhos. É engraçado ver como dois bebés nascidos ao mesmo tempo e com os mesmos pais são tão diferentes – em termos de personalidade, rotinas, gostos e até nas cagadelas. E o que é espetacular nisto é o processo de descoberta entre nós e eles. Cada vez nos vamos conhecendo melhor. Sabemos o que uns e outros gostam mais e menos, o que nos faz rir, o que não nos faz rir, as músicas que gostamos, etc. Simultaneamente, e à medida que nos descobrimos, cada vez gostamos mais uns dos outros. É algo que (para mim) não está lá no início mas está em permanente crescendo.
Cada dia descobrimos coisas novas. Cada dia gosto mais deles.
Pedro Oliveira, pai de gémeos!
Comentários
Catarina Roque 7 anos atrás
Identifico-me muito com o que escreveu. Tambem sou mae de gemeos (um casal com 7 meses) e tal como o pedro disse tambem nao houve nada de magico no nascimento deles mas a "magia" temos construido nós ao longo destes meses. Seres tao frageis mas com uma personalidade ja tao diferente entre si. Tem sido uma aventura todos os dias.