Família, Maternidade
Ela vai sem fralda, senhores. E agora?
5 Julho 2018
Agora é que são elas…
Pois bem, a Leonor começou a andar sem fralda, senhores, sem fralda. E agora?
Agora, agora aguenta… ai aguenta, aguenta.
Dizia eu que ela começou a andar sem fralda durante o dia, ou seja, começou o desfralde precisamente na semana em que fez 2 anos.
O processo iniciou-se essencialmente por sugestão da Educadora, que nos disse que no caso dela, por ser uma das meninas mais escorreitas e “crescidinhas” da sala, acreditava piamente que a pequenita ia adaptar-se muito bem ao processo e que rapidamente estaria a andar sem fralda todos os dias.
NOTA: Nessa semana, mais concretamente no dia 23/05, fui para Amesterdão em trabalho, ficando a Ana, sozinha, entregue às desventuras dos primeiros dias, que consistiram essencialmente em:
- Mudar de roupa 3 ou 4 vezes por dia – ou até mais;
- Perguntar-lhe umas 20 ou 30 vezes por hora se quer fazer xixi e ouvir quase sempre a mesma resposta: Não!
- Limpar xixis pela casa fora, tentando sempre evitar que ela se lembrasse de o fazer num dos tapetes;
- Andar sempre com uma toalha por perto. Não interessa de que tipo, ou tamanho, até porque quando a aflição aperta, vem a primeira que estiver à mão. Qualquer uma serve para limpar o chão. Até um pano da loiça.
- Levá-la à sanita mesmo sem ela querer, tendo de ouvir consecutivamente a frase: “Não té mais mamã/papá. Não té mais.”
- Colocar resguardos descartáveis em todo o lado e mais algum. No sofá, no tapete, em cima da nossa cama, nas cadeiras auto dos dois carros, no carrinho de bebé…
- Rezar!! Rezar muito. Várias vezes ao dia. Sobretudo quando já se esgotaram todas as mudas de roupa que tínhamos trazido para a rua.
Mas deixem-me voltar atrás, à tal 1ª semana, para vos contar uma pequena história a propósito desta enormíssima aventura.
Era Domingo, dia seguinte à festa de anos dela, e tínhamos ido passear ao Saldanha, sendo que já por lá resolvemos então ir lanchar a uma conhecida pastelaria ali na zona.
Entrámos. Estacionámos o carrinho de bebé junto à mesa – que, regra geral, é sempre escolhida em função do espaço existente para guardar o carrinho e da proximidade ou da saída ou da casa de banho – e lá foi o papá buscar o lanchinho para os três.
Ora pois bem, quando volto à mesa, nem sinal das minhas duas mulheres.
Mesa vazia. Carrinho no sítio. E elas, nem vê-las. Foram à casa de banho, pensei.
Mas nunca mais voltavam. Ao fim de alguns minutos lá aparecem. A Ana vinha afogueada e visivelmente cansada.
– O que foi? Perguntei eu…
– O que é que achas?
– Fez cocó?
– Cocó? Cocó é favor. Estavas na fila e ela diz-me “cocó, mamã!”, ao que eu respondi “boa, filha!” e levantei-me para a pegar ao colo e a levar à casa de banho… #sóquenão… mas quando a peguei ao colo percebi que a desgraça tinha já tomado conta da situação.
Já tinha feito cocó e o panorama não era nada animador… e tu na fila.
Bom, peguei nela e levei-a para baixo. Cheguei à casa de banho e comecei a suar… tal era a falta de espaço que a mesma apresentava para a trocar… por isso, como podes imaginar, foram 10 minutos maravilhosos estes últimos… até perdi a vontade de lanchar.
Não, nem tudo é lindo. Não, nem tudo é maravilhoso. Sobretudo quando pelo meio há cocós fora das fraldas… pelo menos eu tenho um problema com cocós… e não é pelo cheiro.
Entretanto a coisa foi estabilizando, como é normal.
No entanto, houve algo que reparámos que mudou, e quase de imediato, isto é, reparámos que ao fim da 2ª noite a Nonô começou, ao mesmo tempo que estava a dar-se melhor com o controlo do xixi, a ter dificuldades em adormecer, coisa completamente nova, essa sim.
É normal, nesta fase, que as crianças façam determinadas aquisições e conquistas, sobretudo aquelas que seriam expectáveis de acontecer mais para a frente, e que tenham algum tipo de regressão noutro tipo de tarefas e rotinas que já estavam completamente enraízadas, como foi o caso do deitar.
Ela dorme a noite toda desde que tem 2 meses – sim, já estou a sentir as vossas sobrancelhas a arquear e a reparar nos vossos lábios a serem mordidos pelos vossos próprios dentes, mas é o que é, ela dorme assim, sempre, para grande felicidade dos papás – e, como é normal, qualquer pai estranharia que a sua filha de repente passasse a ter dificuldades em adormecer…
E foi uma alteração enorme, já que passámos uma semana a ter de ir ao quarto dela 4 e 5 vezes depois de a deitarmos porque ela se levantava e se punha em pé, na cama, aos gritos, a chamar alternadamente por um e por outro, até que alguém atendesse aos seus desígnios. Felizmente já está tudo a acalmar… =)
Por tudo isto, resolvi juntar aqui alguns conselhos para quem possa estar a passar pelo mesmo e já tenha os cabelos em pé – coisa que a mim nunca me sucede – e sinta que está à beira de um ataque de nervos.
- Calma. Pode parecer básico mas não é. Temos mesmo de ter muita calma nesta fase. Não podemos ser bruscos nem ralhar com eles, sob pena de deitarmos tudo a perder e de perpetuarmos o processo durante muito tempo.
- Paciência. Temos de ser mesmo muito pacientes. Pacientes com o chão molhado, com a roupa molhada, com eles que estão numa fase crucial da aquisição da sua independência e maturidade, com tudo. É vital que tenhamos as reservas de paciência no modo inesgotável… e que nos lembremos, sempre, que cada criança tem o seu tempo e que as conquistas acontecem exactamente dentro desse tempo. Ou seja, se as pressionarmos com um assunto tão delicado a coisa vai correr muito mal. Acreditem em mim que sei bem o que vos estou a escrever.
- Prevenção. Pais prevenidos valem por 1000! Por isso, não saiam de casa sem:
sacos de plástico, resguardos, 3 ou 4 mudas de roupa (calcinhas ou calções, cuecas, ténis ou sandálias, meias – se for caso disso – e toalhas de bidé (porque são as mais pequeninas e fáceis de arrumar)… - Alegria. Está a ler bem e não, não estou a divagar. É importantíssimo que a coisa seja vivida com alegria e boa disposição tais que eles se sintam sempre contagiados e alegres. Que sintam que mesmo quando fazem xixi pelas pernitas abaixo que o mundo não acaba ali, que não estão a fazer nada de errado.
- Atenção. É preciso activar os sentidos todos e estar sempre ou quase sempre a olhar para eles. Procurar nas suas expressões o + pequeno sinal de que está na hora de ir à casa de banho. Insistir (e muito) na frase: “filha, quando quiseres fazer xixi tens de pedir à mamã ou ao papá, está bem?” E ter os olhos constantemente postos neles, nas pernas e no chão.
- Descontração. Se molhar, molhou. Se sujar, sujou. Se calhar, calhou.
E daí não pode – sob pena de estragarmos tudo, como disse anteriormente – de maneira nenhuma, vir mal ao mundo. Afinal de contas, senhores, é só xixi… quando não é cocó. E o cocó, meus amigos, não acontece assim tantas vezes. Até porque é a última parte que eles passam a dominar. Segundo nos disse o pediatra da Nonô, é muito frequente que eles fiquem até alguns dias sem fazer cocó, fruto da contracção dos esfíncteres que faz com que eles se “apertem” para não fazer xixi e acabem por não conseguir fazer cocó durante alguns dias. - Coragem. Não é fácil. De todo. Mas é fazível. Perfeitamente. Afinal de contas nenhum de nós vai para a faculdade a fazer xixi nas cuecas. Certo? Por isso, força! Coragem. Determinação. Perseverança e… boa sorte! Muito boa sorte, porque aqui sim, aqui há muita sorte à mistura.
Bom, é isto. Tem sido isto. E tem sido impressionante vê-la saltar etapas e… crescer. É absolutamente incrível poder assistir a isto tudo. Não há nada nesta vida que substitua ou que se equipare ao que sinto por poder ver de muito perto a minha filha a crescer, dia após dia, semana após semana, mês após mês.
P.S – Não podia terminar sem vos dizer para aproveitarem cada minuto. Cada hora. Cada dia. Até porque não deixa de ser hilariante olhar para eles a fazer xixi pelas pernas abaixo, a abrirem as pernas muito rapidamente e a levantar a camisolita ligeiramente aflitos, como quem procura uma explicação convincente para o que está a acontecer. Como não deixa de ser igualmente delicioso vê-los a dizer Boa e já tá, papá. Não tem mais. Por isto tudo e por tudo mais, que felicidade tamanha é esta a de sermos pais.
Autor: pai Martim Mariano
Texto publicado no Blog AGORA NÓS OS TRÊS
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