Especialistas
É preciso deixar o bebé gatinhar!
14 Outubro 2017
Quando é que os bebés começam a perceber o risco de queda de uma mesa ou dentro de água?
Um estudo realizado por Carolina Burnay e Rita Cordovil, da Faculdade de Motricidade Humana, sugere que a experiência a gatinhar – e não a idade do bebé – desempenha o papel mais importante no desenvolvimento da perceção de risco de queda.
Este estudo que foi publicado na revista científica Infancy e alvo de interesse por parte da imprensa internacional (publicado em jornais internacionais como o The Wall Street Journal, edição de 18 de Abril de 2016) mostra que os bebés têm uma maior tendência para evitarem a queda de um precipício simulado ou dentro de uma cuba de água, quando têm mais do que 6 semanas de experiência a gatinhar.
O estudo envolveu 31 bebés, com idades entre os 8 e os 15 meses, com diferentes tempos de experiência a gatinhar. Os bebés foram testados numa plataforma com 75 centímetros de altura. De um lado da plataforma não havia qualquer proteção para a queda (precipício simulado) e do outro lado estava uma cuba de água (precipício aquático). A segurança dos bebés foi garantida com recurso a material de escalada, limitando a queda aos bebés mais “descuidados” a 5 centímetros. Foi solicitado às mães que se colocassem a 1 metro e meio de distância da plataforma e que encorajassem os seus bebés a gatinharem até elas, uma vez em cada lado da plataforma.
Os resultados não mostraram qualquer influência da idade com a qual começaram a gatinhar ou do género dos bebés. A única variável que se mostrou relacionada com o comportamento mais ou menos cuidadoso dos bebés foi a quantidade de tempo que gatinhavam.
Dos bebés com menos de 6 semanas de experiência a gatinhar, apenas 29% evitou a queda da plataforma. Em contrapartida, 75% dos bebés com mais do que 6 semanas de experiência a gatinhar evitaram cair na água e 79,2% evitaram cair do precipício simulado.
Mas o que acontece quando o bebé começa a andar?
Existe neste momento um debate no mundo científico ao qual estas investigadoras portuguesas estão a tentar dar resposta. Uma corrente de investigação afirma que quando os bebés começam a andar precisam reaprender a perceber o mundo que os rodeia. Segundo esta corrente, quando começam a andar os bebés voltam a ter uma tendência para caírem de alturas perigosas, precisando de tempo de experiência a andar para perceberem novamente o risco. Outra corrente de investigação diz que uma vez que o bebé aprendeu a perceber o risco através da experiência a gatinhar, essa perceção é transferida quando eles começam a andar e o bebé tende a evitar quedas ainda mais consistentemente.
Neste momento, e até pelo menos maio de 2018, as investigadoras da FMH estão a testar bebés a andar para comparar o seu comportamento com o observado em bebés a gatinhar, tentando assim contribuir para o debate científico existente.
Se tem um bebé que ainda não anda ou que começou a andar há menos de 5 meses e quer saber se o seu bebé já percebe o risco e evita quedas de altura ou dentro de água, e ao mesmo tempo ajudar a ciência, pode entrar em contacto com Carolina Burnay (965176249, c.burnay@ecu.edu.au). Os testes são realizados na Faculdade de Motricidade Humana, em qualquer dia da semana e aos sábados, e demoram mais ou menos 30 minutos.
Carolina Burnay & Rita Cordovil, 2016 – FMH
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